domingo, 9 de outubro de 2011

Processos de escolarização...Síntese realizada por Mirna Montenegro

1ª sessão - Dia 24 de Setembro 2011
Sábado de Animação Pedagógica e Curso de Análise Evolutiva I...
Processos de escolarização de
crianças de etnia cigana
Mirna Montenegro
http://myrna.com.sapo.pt
Instituto das Comunidades Educativas


Convivência
“É a situação mais desejada, mas também a mais difícil.
Ambas as comunidades relacionam-se e crescem em plano de igualdade, associadas a um processo de mestiçagem
que consolida novas formas de intercâmbio cultural. (...)
Na convivência evita-se a marginalização e respeita-se a história,
mas com demasiada facilidade se confunde com coexistência quando não com
assimilação.” (p.69)

Relação intercultural
“Considerada o estrato mais superior da
convivência e apresenta-se como um objetivo
a longo prazo, mas não inatingível. (...) A
relação intercultural implica “apayar-se” * vem
de payo que significa não cigano em espanhol]
para os ciganos e “aciganar-se” para os não
ciganos” (p.70). Estaremos perante a
mestiçagem?

Coexistência
“As periferias de algumas cidades estão cheias
de exemplos sangrentos de guetos que
obedecem a uma ideia inequívoca de
coexistência” (p.69).
Integração
“Não desejam integrar-se porque significa perder as
marcas da sua identidade” e só aderem a este
conceito se significar facilitar o seu acesso à
educação, ao trabalho, à habitação, à saúde,
mantendo sempre os traços da sua cultura (p.66).
(...) Integrar-se significa “integrar-se num sistema
que já está arbitrado, algo bem diferente da
convivência que garante o respeito por todas as
culturas em plano de igualdade, a mestiçagem e
o sincretismo” (p.101-102).

Tolerância
“Pode dizer-se que se tolera o que não se gosta, mas que
se tem de suportar. Apenas está disponível para tolerar
quem goza de uma posição de superioridade. Ao
invocar a tolerância no contacto entre culturas
consagra-se o princípio de desacordo – tolera-se o que
é incómodo, mas que há que respeitar, ao mesmo
tempo que se admite implicitamente o
desconhecimento mútuo das culturas per saécula
saeculorum, uma vez que a tolerância não incorpora o
seu conhecimento, mas apenas o respeito “por boa
educação” ou por ser “politicamente correto”. (p.72)
Garrido, Albert (1999), Entre Gitanos e Payos,
Barcelona: Flor del Viento Ediciones

Fronteiras
A viagem não começa quando se percorrem
distâncias mas quando se atravessam as
fronteiras interiores.
A viagem termina quando encerramos as nossas
fronteiras interiores. Regressamos a nós
mesmos, não a um lugar.
(Mia Couto, O Outro pé da Sereia, Editorial Caminho, 2006)
As fronteiras separam ao mesmo tempo que ligam…
As fronteiras são uma zona de contacto onde
convergem diferenças fluidas, onde o poder
circula de formas complexas e multidirecionais,
onde a capacidade de ação existe de ambos os
lados desse fosso permanente mutável e
permeável…
Susan Stanford Friedeman (2001)

Aproximação
Deve-se antes utilizar a expressão “aproximação” entre a comunidade cigana
e a sociedade maioritária. Porque, quando se diz integrados ou inseridos,
parece que a sociedade maioritária quer colocar os ciganos no meio deles
sem primeiro os tentar perceber. Para uns, pode ser chamado de inserção,
para outros de integração, para os ciganos não é visto dessa forma.
A comunidade cigana, as escolas e todas as entidades que estão interessadas
em trabalhar com os ciganos o que, neste momento, precisam mesmo e
devem fazer, é uma aproximação. Os ciganos darem um bocadinho deles e
a sociedade maioritária dar um bocadinho também e encontrarmo-nos no
meio do caminho. E aí, sim, trabalhamos todos em conjunto, virados uns
para os outros e sabermos o que estamos a fazer.
Quando a sociedade maioritária, vamos dizer assim, a sociedade portuguesa,
mas nós também somos portugueses, nos diz “Ah! Mas vocês têm de se
inserir, vocês têm de se integrar!”, parece que nos estão a puxar só para o
lado deles e não tentam compreender que há questões culturais que, por
vezes, fazem com os ciganos fiquem um bocadinho “perros”. Por isso, eu
gosto mais de utilizar a palavra aproximação.
(Rafael, mediador municipal).

Estratégias de aproximação
Saber acolher, tanto a criança (que ainda não
sabe nada do “oficio de aluno”) e a sua
família, que desconhece (ou mesmo não
compreende) as regras escolares…
Distinguir o que é normas - o que é da lei – e as
regras – que são impostas pelas pessoas, e
que, com frequência, diferem de pessoa para
pessoa, consoante o seu limiar de tolerância.
Educar e instruir
A família cigana educa, transmitindo valores que
não quer deixar por mãos alheias.

A escola instrui, capacitando com os
instrumentos que a família não tem.
Distinguir e clarificar os papéis de cada um dos
intervenientes do ato educativo/instrutivo.

Negociar
O que é tarefa das famílias – educar
O que é tarefa da escola – instruir
Respeitar os espaços de cada um…
Liberdade de escolha…
Não coagida nem ameaçada…
As trocas e as incursões no espaço do outro faz-se
informalmente, sem se dar conta, quando
os espaços são genuinamente respeitados.

“Aprendizagem guiada”
Aproveitar o conceito de “aprendizagem guiada”
no modo de “educar 􀄃 maneira cigana”, que
tem o seu equivalente 􀄃 “zona proximal de
desenvolvimento” no modo de “educar 􀄃
maneira dos senhores”.
Aproveitar a importância estratégica dos mais
velhos e dos grupos heterogéneos, ou seja, os
grupos naturais, para aprender com os outros.

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